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Escola indígena

 

Educação semeando frutos: uma escola de sentidos

 

 

     A Escola Indígena Manoel Francisco dos Santos foi fundada em setembro de 1999, no entanto, sua inauguração oficial se deu apenas no dia 05 de agosto de 2006. É uma instituição indígena pertencente à rede Estadual de Ensino mantida pelo Governo do Estado do Ceará e subordinada técnica e administrativamente a Secretaria de Educação Básica – SEDUC, sob a jurisdição da oitava Coordenadoria de Desenvolvimento da Educação – 8ª CREDE – Baturité.

     A Escola está localizada na aldeia Sitio Fernandes, zona rural do município de Aratuba. Ela é a realização de um sonho coletivo que demandou muita luta, resistência e perseverança das lideranças indígenas Kanindé que sempre acreditaram numa educação diferenciada como uma importante estratégia para o fortalecimento da identidade indígena Kanindé e desenvolvimento do bem viver local.

     A Escola Indígena do povo Kanindé surgiu da necessidade de toda comunidade por uma educação diferenciada que respeitasse as singularidades culturais dos jovens indígenas que vivem em nossas comunidades, mas que tinham que ser educados nas escolas da cidade sem quem as mesmas tivessem um planejamento pedagógico adequado para atender as nossas especificidades étnicas.

   Queríamos uma escola que pudesse contribuir com continuidade da cultura do povo Kanindé e oferecer a alfabetização de qualidade para os jovens indígenas, para que todos tivessem possibilidade de conhecer a história da comunidade, as suas origens, por meio do acesso à educação escolar dentro da própria aldeia, provendo oportunidade e visão de futuro as futuras gerações Kanindé. Uma escola que nos ajudasse a desenvolver um projeto de formação educacional diferenciada e especifica para suprir as necessidades locais, uma “escola do nosso jeito” (Cacique Sotero), pois só assim os índios Kanindé poderiam amenizar o grande preconceito que assolava a comunidade vinda tanto de outros seguimentos da sociedade envolvente, como também da própria comunidade.

Inicio-se então por iniciativa de algumas lideranças um processo de articulação objetivando a constituição de uma escola indígena na Aldeia Fernandes. Os primeiros passos para construção de uma educação escolar indígena para o povo Kanindé foram dados pelos professores Suzenilton Santos, Terezinha Barrozo e a liderança Benicio Lourenço após participarem de um seminário no CETREX (Centro de Treinamento em Extensão Rural) em Caucaia sobre educação escolar indígena no Ceará no ano de 2003. Retornaram motivados para a aldeia e convocaram outras lideranças indígenas para uma reunião na comunidade onde a pauta principal girou em torno da construção de duas salas de aula para formação de jovens e adultos na própria comunidade.

     Conforme planejado, no início de 2000, foram criadas duas salas de aula para a formação de jovens e adultos na própria comunidade. Um aspecto interessante é que essas primeiras salas de aula funcionaram nas casas de famílias, em pequenos cômodos adaptados para que os estudantes pudessem ser alfabetizados.

    Os professores escolhidos para iniciar esse grande desafio foram o Suzenilton Santos e Terezinha Barrozo, pois os mesmos já desenvolviam de maneira voluntária esse trabalho na comunidade há pelo menos dois anos. Somente depois de muitas reuniões, audiência pública com representantes da SEDUC e da Associação Indígena Kanindé, foi desenvolvido um projeto para remuneração dos professores indígenas Kanindé. No ano de 2002, finalmente os professores indígenas passaram a ser remunerados e iniciou-se uma nova etapa na luta por uma educação diferenciada e os professores passaram a ensinar os indígenas interessados em suas próprias casas. O pagamento vinha através de um depósito feito em nome da associação indígena Kanindé de Aratuba – AIKA.

     Com a organização do povo indígena Kanindé o número de estudantes foi crescendo e o tamanho das salas foi ficando insuficiente. Na ausência de um espaço físico adequado, foi preciso dividir os alunos jovens e adultos em casas de famílias que tinham um espaço maior para recebê-los. Por meio de uma estratégia elaborada pela comunidade indígena Kanindé para atender a crescente demanda por educação nasceram três “escolas” indígenas dentro da aldeia. Era o embrião do viria a ser nos dias de hoje a Escola indígena Manoel Francisco dos Santos.

 

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